sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Vozes externas

"Nos meus fracassos, o que mais doeu foram as vozes externas que nada sabiam de mim mas que queriam determinar os meus passos."

Li essa frase ontem, na publicação de uma amiga do facebook e isso ecoou em mim tão profundamente que reverberou em espaços que eu achei que estavam concluídos.

Há mais ou menos uns 6 anos, aqui nesse espaço compartilhei a postagem de uma pessoa que então eu tinha algo mais íntimo. Uma mulher comentou e respondi. Mal sabia eu que essa era a verdadeira namorada do sujeito.
Eu fui humilhada, fui agredida, não tive oportunidade pra me defender e tampouco tive oportunidade de saber o porquê dele ter feito aquilo comigo, de ter sido tão mentiroso e baixo. O pior não foi ele, mas ela, então mulher aparentemente culta e elegante, que escreve tão bem pra fora e não tem civilidade alguma pra colocar os pingos nos is. Me tratou como uma oportunista, uma qualquer que queria roubar o homem e amor da vida dela.
O fato é que quem sofreu, quem adoeceu, quem entrou em depressão, quem perdeu cabelo fui eu. E é um processo doloroso você se levantar de uma situação em que você não teve oportunidade de realmente entender o que aconteceu.
É muito doloroso.
Eu só gostaria de agradecer a Raquel, a moça que postou a frase inicial do post, pois permitiu ver de fato as feridas que ainda sangram por dentro. E eu fico feliz de ter fracassado nesse aspecto, foi uma oportunidade incrível de me conhecer melhor, conhecer meus monstros, minhas debilidades, as coisas que eu preciso transmutar pra liberar minha verdadeira essência.
Quanto as vozes externas que tanto me machucaram, minha cota de raiva e tristeza passou. Desejo felicidade, desejo sucesso. Desejo principalmente que nunca passem pelo que eu passei. Desejo que nunca entrem no estágio depressivo que cheguei. Desejo que nunca se sintam humilhados e tripudiados da forma como me fizeram sentir. Desejo que aprendam a algum dia serem gente de verdade pelo amor e pela humildade e não pelo desprezo e falta de respeito que tiveram comigo. Desejo que fiquem em paz.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Apesar de você

https://www.youtube.com/watch?v=1ZNNUU_AbXs

Me falaram que você se arrependeu.

Sugeriram que você ia pedir uma nova chance. Eu ainda acho que foi provocação pura e simples de gente baixa como você.
Gente que eu hoje acho baixa por tua causa. Gente que evito. Gente que corro como o diabo corre da cruz.

Me falaram que você se arrependeu e vai pedir perdão e uma nova chance.

Eu sinceramente não tenho nem reação de tão bizarro é tudo isso.

Eu só queria te dizer que concordo com o que você disse da última vez, que a gente não tem nada a ver.
Eu não tenho nada a ver com sua religião.
Eu não tenho nada a ver com música eletrônica.
Eu não tenho nada a ver com sua voz vacilante.
Eu não tenho nada a ver com sua inércia.
Eu não tenho nada a ver com suas armas.
Eu não tenho nada a ver com seus preconceitos, suas mentiras e hipocrisias.

Talvez se você tivesse falado isso a primeira vez que terminamos, talvez as coisas não tivessem tomado o rumo que tomaram. Mas como você bem disse, a gente não tem nada a ver: enquanto eu prefiro a verdade doída, você só pode oferecer mentiras e dissimulação.

Me falaram que você se arrependeu e vai pedir uma nova.

Se for verdade mesmo, eu só vou poder dizer: Imagina, se eu voltar com você, o que minha família e meus amigos vão dizer?

Segue sua vida vai. Segue bem longe de mim. Busca ser a pessoa que você nunca prestou pra ser  até hoje. Seja gente. Gente de verdade, com emoção, com causa, com luta. Não esse amontoado de nada que não agrega nada em lugar algum. 
Segue sua vida.
Eu continuei seguindo a minha apesar de você.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Perfect (Depeche Mode)

https://www.youtube.com/watch?v=ma6XFAeXKT4

on another world by another star at another place and time
in another state of consciousness in another state of mind
everything was almost perfect, everything fell into place,
(assim foi quando nos conhecemos)
that you may reach a different verdict,
if all the judges missed the case
(assim foi quando você partiu)


in a parallel universe that's happening right now
things between us must be worse but it's hard to see just how
(nós nunca poderíamos imaginar)

and everything could have been perfect
everything in the right place
then I wouldn't have to play the suspect
accused, abandoned and disgraced
(como hoje me sinto)

i didn't choose, i didn't pull the trigger
it wasn't me, i'm just a plain and simple singer
i heard the sound, i turned my head around
to watch our love shot down
(porque assim você deixou)

in another lonely universe, we're laying side by side
(como no sonho onde apanhávamos estrelas na frente da floresta)
well no-ones hurt and no-ones cursed and no one needs to hide

and everything is almost perfect
everything is almost right
there are never any conflicts
there are never any fights
(porque assim que parecia que seria no começo)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Diálogos imaginários.

- Eu te amei!
- Cala essa tua boca nojenta, não dirija a palavra a mim.
- Mas eu te amei!
- Ah é?! Que amor é esse que só serve pra destruir os outros?
- Eu não queria isso...
- Você age como se eu quisesse, como se eu tivesse desejado, como se eu tivesse provocado essa situação, quando foi você, apenas você que deu todas as pistas, todos os sinais e todos os desejos de que queria algo. Você não deveria ter voltado, você deveria ter ficado no seu limbo.
- Eu sei que fui eu que fui atrás, mas era porque eu gostava de você. Eu só não queria que isso tivesse acontecido.
- Cala a boca! Eu não quero ouvir nada do que você tem a dizer, eu não preciso ouvir nada do que você tem a dizer. Porque nenhuma de suas desculpas, nenhuma de suas justificativas seriam capazes de reverter tudo o que foi feito. E tudo o que eu queria é que tudo fosse revertido. Mas você e nem ninguém podem fazer isso.
- Me perdoa.
- Não. Eu gostaria de te perdoar, mas eu não consigo. Eu queria que você desaparecesse, talvez assim eu conseguisse te perdoar. Mas você é tão asqueroso e incomodo e inconveniente e inútil que nem pra isso serve.
- Eu não sou vagabundo!
- Você é coisa bem pior que vagabundo. Suma da minha vida!.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Cantinho

Passei no mestrado, com uma excelente nota. Podia ter sido melhor se talvez eu tivesse dedicado umas duas semanas de estudo para Química Orgânica e Bioquímica, assim como fiz para QSAR. Eu podia ter aprendido a reação de Knoevenagel, lembrado de reações orgânicas. Podia ter feito aquele cálculo de cinética enzimática. Sempre empurrei com a barriga cinética enzimática. Mas me comprometi a de verdade a estudar essas duas disciplinas, antes de começar as aulas. Questão de honra.
Assim trato os assuntos da minha vida, meu trabalho, meus estudos, minha família: uma questão de honra. Bem ou mal, minimamente tenho algum controle sobre esses assuntos. Meu desempenho profissional e acadêmico dependem muito de mim. O clima dentro de casa depende muito da minha capacidade de engolir sapos.
Engolir sapos. Metáfora interessante. Talvez se aplique a fobia que tenho ao anfíbio com cara triste, aspecto denso, mas potencialmente perigoso.
Engulo sapos sabe se lá desde quando. Engolia pra não incomodar meus pais. Engolia pra minha mãe não aborrecer minha avó. Engolia pra professora não brigar com todo mundo. Engolia pra não desabar em lágrimas no meio da sala. Mas sapo é um animal, como já dito, com potencial perigoso. Muitos possuem veneno. A gente fica engolindo esses sapos da vida e fica acumulando veneno dentro da gente. Isso não pode dar certo.
Com tudo isso sempre preferi me isolar a ter que lidar novamente com algum tipo de frustração a ter que engolir sapos. Se me afasto de alguém, te garanto, com certeza essa pessoa me fez engolir um batráquio de um kg pelo menos.
Isso sempre me fez retornar pro meu cantinho, pro meu centro. Aqui ninguém tem acesso. Tem uma serpente gigantesca que não sente nem cócegas com os sapos que tem que engolir.
Mas uma coisa é você se colocar no seu cantinho.
Outra é alguém te colocar lá.
Isso explica muito do que me fez suspender por enquanto qualquer tipo de investida sentimental.
Vá lá, dê me um livro de bioquímica e duas semanas, eu te garanto que conseguirei expressar maravilhosamente cinética enzimática.
Mas sentimentos, tristes, felizes, hediondos, barulhentos, perturbadores não são como cinética enzimática. Não são tão simples. Eu posso, devidamente preparada, falar após algum tempo de cinética enzimática. Eu não posso fazer o mesmo quando eu estou com ciúmes, quando estou com saudade, quando estou com raiva. Eu não posso nem mesmo fazer quando estou explodindo de felicidade por estar com alguém do meu lado sem ouvir "olha só, vamos com calma com essas expectativas'. Então um momento legal é entendido como uma expectativa. E a pessoa me põe no cantinho.
Pessoa pisou na bola, me magoou, eu vou externar isso, o que ela me fala?
"Cara, eu não te prometi nada, não me cobra".
Me pôs no cantinho.
Vou chamar pra irmos num cinema, num restaurante que acho legal.
"Ahhh... Então... Não posso... Hoje não dá... Conheço lá, não gostei... (etc.)"
Me pôs no cantinho.
Estou com ciúmes. Vou tentar racionalizar a coisa e expressar.
"Olha só ela, tá apaixonadinha, tá brabinha".
Me pôs no cantinho.
Acho que precisa ter muita coragem pra assumir-se como pessoa ciumenta. Acho que tem muito medo interno pra pessoa que diz que não é ciumenta e tentar racionalizar e expressar aquilo sem parecer contraditório.
O fato é que nunca conheci alguém, nem na história dos ditadores, que não tivesse insegurança, que não se sentiu rejeitado, que não se sentiu vulnerável ao gostar de alguém. Acho que isso é parte disso que a gente interpreta como ser um humano.
Mas a gente tem medo. Tem medo de se abrir, de falar de nossas inseguranças e o outro vir e nos rebaixar, nos humilhar, tripudiar do que sentimos. Dá medo de se entregar de alma e coração e a pessoa ficar com medo e se afastar.
Então a gente meio que se obriga a viver com cara de blasé, a parecer que tem sangue de barata, a perdoar e desculpar tudo pra (tentar) não afastar o outro. Ou para que esse outro não perceba sua vulnerabilidade com sua entrega, com sua inseguraça/ciúme, com sua alegria para ter aquela atitude de me pôr no cantinho e dizer inconscientemente "ahhhhh, você está completamente vulnerável e a minha mercê? Ótimo. Então fica a minha mercê nesse cantinho, que eu vou ali me divertir com outra pessoa enquanto você fica aí. Talvez eu lembre de você quando ninguém mais me querer".
Com o tempo, a gente se acostuma a ficar tanto no cantinho, com nossos livros, nossas flores, nossos brinquedos, que não queremos mais sair dali.
"Sair por quê, se ninguém quer dividir esse lugar comigo e me deixam sozinha?"
Vamos fazer o que nos propomos. Vamos aqui nesse cantinho estudar cinética enzimática.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Outubro

Na minha cabeça, ainda infantil, o único mês que existe em minha cabeça em Outubro. Quando pequena, todo dia era dia de Outubro, dia de festa, dia de alegria, apesar de um dos eventos mais tristes da minha vida ser em outubro. No Outubro das minhas lembranças tinha as quatro estações do ano, tinha gelo, tinha sol, banho de rio, jabuticabeira, vassoura em miniatura, correr das vacas e dos gansos, deitar na pedra, olhar o céu azul. Todo dia do Outubro que foi minha infância era dia de viajar pra casa dos meus parentes, comer pão com nata, biscoito de polvilho, ouvir bronca por colher cogumelos, caçar morangos brilhantes. Era ver crocodilos nas pedras dos rios e brincar baixinho pra ele não vir atrás da gente. Tinha cheiro de tabaco, o tabaco dos barracões do meu tio, mas também cheiro de lírio dos jardins da minha tia e dos doces  que sempre tínhamos. Tinha o brilho da lã de aço queimada, das estrelas do céu misterioso de Nova Aurora. Tinha o som das histórias do meu avô, das histórias de extraterrestres e outras coisas que tínhamos medo, mas mesmo assim sempre queríamos ouvir. Tinha o som da coruja que ficava na igreja de Marajó, do silêncio ensurdecedor do pinus na frente de casa. Tinha um lugar proibido pra ir, mas que era lindo. Daí eu cresci e o Outubro da minha vida passou e veio o pesado novembro, o ansioso dezembro, o tédio de janeiro, a falta de sentido de fevereiro... Tudo tão sem graça, tudo não Outubro. E ficou pra trás as traquinagens, bolachas cobertas de glacê, sonhos de goiaba, as ruas de pedra, as vacas e o touro bravos... Aonde ficou o chinelo perdido no meio da palha? Aonde estavam aqueles que jogavam baralho aqui não faz muito tempo? Cadê as bonecas de pano? Não sei, ficou tudo em Outubro.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Revoluções por minuto


Engraçado os rumos que a vida nos dá. Às vezes você precisa estar no fundo do poço para, a partir dali, cavar um caminho pra uma vida nova, completamente diferente, completamente inesperada e completamente melhor. Revoluções por minuto é o que a vida está dando este ano.  E estou gostando disso. Estou gostando da pessoa que estou me tornando e gostando ainda mais de abandonar a pessoa neurótica e infeliz que eu era. Seguindo minha própria vida, deixando os fantasmas e as dores do passado para trás. Apesar de tudo tão inesperado, isso foi o que me motivou a mudar de vida, a querer uma nova vida. Pela primeira vez na vida me sinto e me vejo como uma mulher bonita. Mulher sim. Não me vejo mais como a garota complexada com cara de bibliotecária do colégio. Mulher bonita e sensual, que encanta mesmo numa fase tão diferente quanto é a gravidez. Pela primeira vez me amo, me dou valor, digo não, bato o punho na mesa e contesto. Não sou mais a garota que vai aguentando, engolindo, segurando e no fim se matando. Já mudei tantas vezes pra agradar e me adequar a pessoas e situações que em momento algum mereceram tal esforço e que tal mudar pela pessoa mais importante na minha vida, eu mesma?
Quantos de nós não passamos a vida toda em função dos outros, pra agradar os outros, na esperança tola de receber umas migalhas da dedicação que lhes oferecemos? Quantos “nãos” e humilhações suportamos por sobras estragadas da atenção de outro alguém? Aprendi da pior forma possível a enxergar meu valor, a não baixar minha cabeça para situações humilhantes, a correr atrás do que desejo?
SE ENXERGUE!
SE AME!
Veja o ser maravilhoso que és, a partícula divina que habita em ti. Não se rebaixe a situações que desmereçam o que você é. Não tolere pessoas oportunistas na sua existência. Não permita que estafermos adentrem sua vida e te tirem o equilíbrio. Não vale a pena, valemos muito mais que isso para aceitarmos e tolerarmos. Faça a  revolução que você quer no mundo em você mesmo.