sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Deixando o Ninho




Em que momento da vida realmente é preciso ter o nosso espaço? O que realmente deve motivar? Um casamento? Uma faculdade? Uma oportunidade? Ou a dor? A falta de compreensão? O esquecimento constante? A falta de valor constante? Quando é que provocações param de ser meras brincadeiras para serem ultimatos reais e doloridos?
Aprecio muito a natureza, os animais, eles possuem uma sabedoria instintiva que esmaga a arrogância humana. Perceba que, de um modo geral, eles vivem um ciclo em que nascem, crescem, procriam e CUIDAM. E muito mais que cuidar do filhote em um sentido protetor, é um cuidado que ensina pra vida adulta. Os adultos brincam de caçada com seus filhotes, os filhotes brincam de lutar, os filhotes aprendem a voar e todas essas coisas bonitas (e algumas cruéis) que a gente vê nesses programas legais de gente que arrisca a vida pra filmar os bichanos...
Falei de crueldade né?! Por mais bonita que a natureza seja, ela também é cruel. Os animais também o são. Mas nenhum outro animal supera a crueldade do ser humano. Esse é cruel por excelência, o tipo de animal que justifica todas as suas crueldades pelo bem dos seus “filhotes”. Sinceramente, poucas vezes essas crueldades cometidas pelos seres humanos são realmente justificáveis para seus filhos e o impacto que isso vai ter sobre a formação deles pode ser nula como pode ser total.
Eu fico muito feliz quando vejo que hoje em dia as pessoas não têm aquele moralismo insuportável pra carregar um casamento/ajuntamento fadado ao fracasso por conta dos “filhos”. “Porque eu quero que meus filhos morem com o pai”. “Porque eu quero que meus filhos tenham um lar seguro”, “Porque eu quero que meus filhos não fiquem sozinhos em uma cidade enquanto estão na faculdade”... E é um acumulo excessivo de “porque quero que meus filhos...” que mais atrapalham do que ajudam, debilitam, magoam.
Pessoas assim justificam a sua dor pelo “bem-estar dos seus filhos”. Mas todo mundo já ouviu aquela história de que “nada é dado de graça nessa vida, tudo e todos exigem um retorno”. E mais dia ou menos dia os sacrifícios que a pessoa fez pelo bem-estar dos seus filhos exige um preço, um retorno, nem que seja a anulação de identidade desses filhos que a pessoa tanto sacrificou, mas ela quer algo, não importe em quantos cacos você fique.
Gostaria de dizer a cada pai ou mãe que leiam esse texto, que, por favor, não façam sacrifícios por seus filhos enquanto vocês não estiverem felizes consigo e principalmente com o companheiro. Não carreguem um relacionamento fracassado pelo bem dos seus filhos pra daqui 10 anos vocês estarem explodindo e dizendo “eu fiquei com o/a canalha do/a seu pai/sua mãe por sua causa”. È mesquinho. É transferir a culpa da infelicidade de vocês pra eles. E isso vai fazer com que seus filhos sejam adultos tão frustrados como vocês o são, sem perspectiva, se envolvendo em relacionamentos e famílias com um único destino: a dor.
Não pense que um filho vai segurar um casamento. Não pense que um casamento vai ser feliz pelos filhos. Não pense que seus filhos serão felizes sendo atormentados por lembranças de seus pais brigando, se insultando e jogando na cara deles os “sacrifícios” que fizeram por eles. Pai vai ser pai morando na mesma casa ou morando na Sibéria. O mesmo é válido para muitas mães. Vai-se ser um bom pai, ele vai se fazer presente. E presença não significa estar do lado, mas fazer com que cada minuto dedicado ao outro seja um PRESENTE.
As pessoas devem entender que antes de darem amor para alguém, serem felizes com alguém, devem se amar primeiro, serem felizes com as pessoas que são, não com as pessoas que acham que possuem como um objeto qualquer. Ninguém, além de nós mesmos, é responsável pela felicidade ou infelicidade.
Pra encerrar, voltando a natureza e aos animais, e logicamente, a sabedoria de ambos, já perceberam que sempre os animais são forçados a sair da toca dos seus genitores, sair para o mundo sozinhos, ou senão, são assassinados ou comidos? Com seres humanos, muitas vezes, é a mesma coisa... Por isso deixo o ninho.