quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Outubro

Na minha cabeça, ainda infantil, o único mês que existe em minha cabeça em Outubro. Quando pequena, todo dia era dia de Outubro, dia de festa, dia de alegria, apesar de um dos eventos mais tristes da minha vida ser em outubro. No Outubro das minhas lembranças tinha as quatro estações do ano, tinha gelo, tinha sol, banho de rio, jabuticabeira, vassoura em miniatura, correr das vacas e dos gansos, deitar na pedra, olhar o céu azul. Todo dia do Outubro que foi minha infância era dia de viajar pra casa dos meus parentes, comer pão com nata, biscoito de polvilho, ouvir bronca por colher cogumelos, caçar morangos brilhantes. Era ver crocodilos nas pedras dos rios e brincar baixinho pra ele não vir atrás da gente. Tinha cheiro de tabaco, o tabaco dos barracões do meu tio, mas também cheiro de lírio dos jardins da minha tia e dos doces  que sempre tínhamos. Tinha o brilho da lã de aço queimada, das estrelas do céu misterioso de Nova Aurora. Tinha o som das histórias do meu avô, das histórias de extraterrestres e outras coisas que tínhamos medo, mas mesmo assim sempre queríamos ouvir. Tinha o som da coruja que ficava na igreja de Marajó, do silêncio ensurdecedor do pinus na frente de casa. Tinha um lugar proibido pra ir, mas que era lindo. Daí eu cresci e o Outubro da minha vida passou e veio o pesado novembro, o ansioso dezembro, o tédio de janeiro, a falta de sentido de fevereiro... Tudo tão sem graça, tudo não Outubro. E ficou pra trás as traquinagens, bolachas cobertas de glacê, sonhos de goiaba, as ruas de pedra, as vacas e o touro bravos... Aonde ficou o chinelo perdido no meio da palha? Aonde estavam aqueles que jogavam baralho aqui não faz muito tempo? Cadê as bonecas de pano? Não sei, ficou tudo em Outubro.